Relator apresenta parecer favorável à PEC dos Precatórios
O relator
da chamada Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios, deputado Darci
de Matos (PSD-SC), apresentou na segunda-feira (30) parecer pela admissibilidade da
proposta (PEC 23/21). A expectativa do relator era ler o
parecer na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) já nesta terça-feira (31),
para que o texto pudesse ser votado na semana que vem, mas o deputado Marcos
Pereira (Republicanos-SP), que presidia a reunião, retirou a PEC de
pauta e colocou em votação apenas dois requerimentos que pediam a realização de
audiências públicas para debater o assunto. Os requerimentos foram aprovados.
A proposta
do Poder Executivo muda o pagamento de precatórios, que são dívidas do governo
com sentença judicial definitiva. Até 2029, aqueles com valor acima de 60 mil
salários mínimos, ou R$ 66 milhões atualmente, poderão ser quitados com entrada
de 15% e nove parcelas anuais.
Segundo o
governo, a medida é necessária porque, em 2022, o montante em precatórios
deverá alcançar R$ 89,1 bilhões – um acréscimo de R$ 34,4 bilhões em relação a
2021. Segundo o ministro da Economia, Paulo Guedes, esse valor poderá
comprometer os demais gastos do Executivo. O Ministério da Economia avaliou
que, se a PEC for aprovada ainda neste ano, poderão ser parcelados 47
precatórios, gerando economia de R$ 22,7 bilhões no próximo ano.
O parecer
de Darci de Matos afirma que a proposta não ofende a forma federativa de Estado
e que “as linhas que definem a autonomia dos entes federados” são mantidas.
Também argumenta que o texto não fere a separação de Poderes e que não há
nenhum vício de inconstitucionalidade formal ou material na PEC.
Oposição
A proposta deve enfrentar bastante resistência na CCJ. O texto uniu,
contrariamente, partidos que não costumam concordar, como PT e Novo. Para o
deputado Rui Falcão (PT-SP), a proposta promove um
"calote". “Não vejo por que tanta pressa para votar uma PEC altamente
complexa, a 'PEC do calote'. Quero lembrar aqui que a PEC da reforma
administrativa teve 19 audiências públicas nesta comissão, e sobre essa PEC nós
não realizamos nenhuma ainda”, disse.
O deputado
Gilson
Marques (Novo-SC) classificou a PEC de “calote do calote”. “Eu
gostaria de somar e corrigir um pouquinho, de que essa PEC não é a PEC do
calote, é a PEC do calote do calote, porque o precatório já é um calote, na
medida em que não pagou, é um papel. Então agora nós estamos infringindo não só
a segurança jurídica, mas o pacto entre as partes”, lamentou.
Acordo
Como ainda vai ser realizada uma audiência pública na CCJ para debater o tema,
o deputado Marcos Pereira decidiu retirar a PEC de pauta nesta terça. “Eu
também acho que não há necessidade de tanta pressa", disse, lembrando que os
presidentes da Câmara, Arthur Lira; do Senado, Rodrigo Pacheco; e do Supremo,
Luiz Fux, reuniram-se para debater o assunto, o que pode levar a um acordo
sobre a proposta.
O deputado
Darci de Matos defendeu a votação rápida da matéria, e o próprio conteúdo da
proposta. Segundo ele, mesmo que a negociação entre os Poderes dê certo, o
governo vai manter a PEC. “Está se propondo parcelar os precatórios por uma
necessidade premente do Brasil, visto que nós poderemos comprometer as
políticas públicas”, alertou.
A Comissão
de Constituição e Justiça analisa apenas a admissibilidade de propostas de
emenda à Constituição. Isso quer dizer que não analisa o mérito, o conteúdo
propriamente dito, mas apenas se o texto está de acordo com o texto
constitucional e com outros critérios técnicos. Se passar pelo crivo da CCJ, a
PEC ainda precisa ser avaliada por uma comissão especial e pelo
Plenário.
Saiba mais sobre a tramitação de propostas de emenda à
Constituição
Reportagem
- Paula Bittar
Edição - Geórgia Moraes
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